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Organizers interview @ DNB Online - 05.06.03
por Joca Vidal
originalmente publicada em www.dnbonline.com.br

A dupla gaúcha de produtores de drum'n'bass Organizers esteve no Rio de Janeiro pela segunda vez em 6 meses para tocar na cidade e mostar seu novo trabalho Rio de Janeiro Sessions. Aproveitando a ocasião, o DNB OnLine fez com exclusividade a seguinte entrevista com os guris, que contam como tudo começou, qual o processo de criação e como andam as coisas lá em Porto Alegre.

Com vocês, Nes e Cardoso, os Organizers :

DNB Online - Como vocês começaram com o drum'n'bass? Vocês sempre escutaram música eletrônica?

Cardoso – Na real, em termos de música eletrônica, começamos direto com o drum'n'bass. Em 1995/96, nós vimos um documentário inglês no GNT (canal por assinatura) que falava sobre a cena do jungle e tinha uma parte em que a DJ Rap estava andando de carro, indo pra quatro ou cinco lugares diferentes numa só noite para tocar e tal, e uma das noites era de ragga jungle, onde negros jamaicanos cantavam sobre aquela base pesada do jungle. O baile tava bastante vazio, só tinha umas mulheres que ficavam dançando no estilo jamaicano, com pouca roupa, aquela coisa, os caras vestidos de gangster, esse tipo de estética. Não sei por que, mas aquelas batidas fizeram o maior sentido e a gente foi num dia ao centro da cidade, numa loja de discos lá que tinha altas promoções absurdas. Aí tinha um CD da Paradoxx chamado 20 of the Bests Jungle Rhythms – drum'n'bass Vol. 4, era o quarto de uma série internacional de vinis e só o 4º volume saiu em CD. Pelo menos eu só encontrei esse e nunca mais vi nenhum outro em catálogo algum.

Nes – Era o tipo de CD todo errado. Sabe quando a gravadora faz um CD todo tosco e tal e acaba vendendo barato? Foi muita sorte encontrar esse CD logo após termos visto esse documentário.

Cardoso - Pois é, meio a contragosto tinha ido ao centro com meu pai e pedi pra ele comprar pra mim: “Pô pai, compra aí, só 6 pau e tal...”. Aí ouvimos o CD e lá tinha Roni Size, Shy FX, só feras...

Nes – Tinha Dillinja também...

Cardoso - Tinha também uma ou duas músicas que estavam faltando no CD, por isso que compramos mais barato, enfim, logo depois compramos um computador, coisa que a gente nunca tinha tido em casa, isso foi entre 1996 e 1997, e começamos a procurar softwares de música. Pensamos : “Bah! Deve ter como fazer a nossa própria música, né?”

DNB Online - E qual foi o primeiro programa?

Cardoso - Sound Forge.

Nes – Foi o Sound Forge, mas na real, nós pegamos por engano, a gente viu a interface, ficou fissurado pelos vários comandos, recursos, mas depois vimos que não era tudo isso, era apenas uma ferramenta para melhorar, aperfeiçoar a música. Depois dessa pequena frustração a gente começou a procurar de novo e eu encontrei o Fruity Loops. Mas era dificil baixar o programa, na página só tinha a versão demo que tu não podia salvar e tinha apenas quatro canais pra fazer a música. Foi quando eu corri atrás de um cracker, pra conseguir fazer os tunes. Então a gente começou a “brincar”...

Cardoso - Pois é, esse lance dos programas foi o seguinte: a gente procurou durante meses um programa pra fazer música e o Sound Forge era muito tosco, até dava pra fazer música e tal, mas a gente fazia o som, cortava parte da música e ia repetindo essa parte várias vezes. Aí a gente conheceu o Rebirth, que tinha quatro máquinas clássicas, duas de linhas de baixo e duas de bateria, da Roland, e elas ficam tocando ali no computador, é um tipo um joguinho, muito fácil de mexer, dava pra brincar legal.

DNB Online - Fazia em tempo real?

Cardoso - Em tempo real e em vários padrões pré-gravados, e tu também pode compôr no Rebirth, só que para isso tu precisa de um negócio chamado "mod", que te possibilita vários timbres e também importar samples, gravar músicas e importar sons externos nele. Em uma dessas madrugadas nós encontramos o Fruity Loops, e aí a brincadeira ficou mais sofisticada, íamos na biblioteca de samples e ouvíamos sons lá de bumbo, caixa e etc. Timbres de baixo, sintetizador, piano, enfim, a gente catou legal os sons da biblioteca. Hoje em dia tá difícil de achar novas bibliotecas, por isso demos uma parada, mas baixamos muito material legal.

DNB Online - Sempre sampleando?

Cardoso - Pouco, mas sampleando. Há pouco tempo o Nes fez uma música (Petrópolis) com uns samples do Tom Zé que o Joca nos deu quando estivemos pela primeira vez no Rio, o nome é Quebra-Cabeça. É um cd duplo, um deles é normal com o Tom Zé, e o outro é o CD com os samples e os instrumentos abertos, o que te possibilita fazer o remix das músicas.

DNB Online - Aí vocês pegaram o Fruity Loops e começaram a fazer suas próprias músicas. Vocês se lembram da primeira como foi?

Nes – Sim, claro. Não tinha nada de composição, era uma coisa estilo Sound Forge, porque nós não sabiamos montar batidas e nem o tempo que elas funcionavam, nem sabiamos quais eram os padrões que tínhamos que acertar.

Cardoso - Não sabiamos sequenciar sons, botar o bumbo, a caixa...

Nes – ...daí pegavamos a batida pronta e, como podia usar arquivos como "wav", pegavamos o som de uma corda, por exemplo, e em cima colocavamos algo diferente e ficava legal. Só que comparando com o que a gente faz hoje, isso era muito primitivo.

Cardoso - Repetia durante "horas" uma linha de baixo e uma certa batida.

Nes – Não tinha nenhuma variação, era sempre o mesmo loop contínuo.

Cardoso – A primeira música que eu fiz foi o mesmo esquema, era uma batida pronta, tinha um pianinho, umas variações e uma linha de baixo bem simples, muito barbada. Só que essa música foi parar na página da Rádio Ipanema, lá do Rio Grande do Sul, e era um dos primeiros MP3s que podia dar download. Tinha lá Organizers – Digmus. Muita gente falou que a música era uma droga, era só uma colagem de batidas muito repetitiva, aí nós resolvemos começar a dar uma trabalhada. A crítica apontou caminhos e soluções.

DNB Online - E aí vocês foram evoluindo...

Cardoso – Sim, logo depois quem começou com a jogada foi o Nes por que ele fez essa Tough Ones que ele tava falando, que foi a primeira que nós programamos toda a batida. Ele programou as caixas, os bumbos, tudo certinho, botou uma linha de baixo, elementos de corda, foi uma música mais elaborada, mas sem deixar de ser tosca, primitiva, com timbres mal equalizados.

Nes – Mas nós não sabiamos usar o Fruity Loops direito naquela época, tava mais era brincando mesmo.

DNB Online - E esse lance da Rádio Ipanema deixou vocês mais conhecidos e tal...

Cardoso – Sim, pois foi a primeira oportunidade que tivemos, bastante gente baixou o som e logo depois rolou de fazermos uma página no mp3.com...

Nes – ... que foi fundamental, por que, pode parecer meio idiota, são vários artistas que não têm nada a ver, mas que de um jeito ou de outro dava pra sacar quantas pessoas tinham gostado de sua música e a gente foi bem baixado.

Cardoso – Legal que tinha russo, sueco, norueguês, gente de vários cantos do mundo. Uma vez eu recebi um e-mail de uma guria portuguesa que tinha baixado nossos sons e os tinha tocado numa rave na Bélgica, olha que bizarro... eu conheci ela pela internet, ela tinha um zine de skate chamado Carol SK8.

DNB Online - E a evolução hoje, como está se dando?

Cardoso – A grande jogada foi a seguinte: é drum'n'bass, então tem que saber fazer baixo e bateria. O baixo não é muito difícil, tendo um mínimo de melodia tu consegue fazer uma linha decente, que pode ser um pouco repetitiva e tal, mas dá pra encontrar alguma coisa que seja agradável ao ouvido. Agora, a linha de bateria tá muito exposta. Se tu faz uma batida ruim fica evidente que tá uma droga, então tem que fazer uma batida legal, saca? Até que o Nes descobriu uma barbada que o lance era fazer a batida a 90, em vez de 180. Tu faz uma a 90 e depois incorpora alguns elementos. Quando passar ela pra 180 ela fica muito melhor, bem mais rica. Quando ele descobriu isso as coisas começaram a melhorar.

DNB Online - Então quer dizer que o Nes é o grande gênio por trás dos Organizers (risos)?



Cardoso – Total, é. 90% das músicas é dele, é ele quem dá mais palpites, tem mais noção musical pra coisa, com certeza.

DNB Online - Como foi a entrada de vocês na cena gaúcha de drum'n'bass?

Cardoso – Foi bizarro, eu tinha um fanzine por e-mail chamado Cardosonline e eu divulgava muitos eventos culturais de Porto Alegre, qualquer coisa. E eu divulguei muita coisa de música eletrônica, quando a cena gaúcha realmente tava começando a acontecer.

Nes – Época que foram surgindo várias raves e o pessoal estava começando a aceitar o som.

Cardoso – Tinha uma festa fixa chamada Club One e o ‘patrocínio’ era sempre CardosOnline. Só que nós não davamos grana nem nada, a gente não tinha. O que a gente podia fazer era uma divulgação, sempre tinha um colunista por lá, e fazia um review do que tinha sido a festa. E eu comecei a me interessar muito por música eletrônica e a comprar CDs do Chemical Brothers, Prodigy, mas o meu forte era mesmo drum'n'bass e estava sempre propagando isso. Quando nos estavamos fazendo a página do mp3.com nós vimos que estava fraco só lá no site, e resolvemos fazer a página da Família da Coisa, que é nosso ‘selo’ de drum'n'bass que ia lançar todos os nossos artistas. Eu pirei, inventei um monte de identidades que nunca produziram porra nenhuma, tipo Nightshift, Castor, Casoy, coisas bizarras assim, e a página não tem nada, é um labirinto. A Família da Coisa teve uma festa de lançamento chamada Projeto Entropia e as pessoas conheciam o fanzine. Tocamos nessa festa a noite inteira. Foi um esquema meio estranho por que o dono do lugar (Garagem Hermética) tinha um aparelho de som que o sistema era aquele de carrossel, sabe?

Nes – É, no esquema de “bota esses CDs aí e deixa rolar”.

Cardoso – É, foi uma merda. Cheguei e falei pra ele programar por que aí não precisava ficar mixando e ele disse tudo bem. Demos a sequencia com o número das músicas e ele programou tudo errado. Tinha uma música do EZ Rollers, Meatball, que tocou umas cinco ou seis vezes. Aí foi meio fracasso a festa, mas apareceram umas 100 pessoas, algumas vieram falar com a gente. Depois dessa a gente organizou uma chamada Drumba Para as Massas, junto com o Marcelo Firpo e o Maurício Kras. Nessa época a gente estava tocando num projeto chamado Eletrochilli, na parceria, mas resolvemos fazer uma festa sozinhos. Essa festa foi apelidada de Drumba Para as Moscas por que não apareceu ninguém, cara. Era uma segunda ás sete da noite e o som só chegou ás nove, deu um monte de merda. Daí, bah, nós desanimamos e tal...

Nes – Tinha umas dez pessoas no lugar...

Cardoso – Aí o tempo foi passando e uns três meses depois reuniram todos os DJs de Porto Alegre em uma iniciativa do Carlos NC, do Nando Barth e do Double S (que é o dono do Neo Club) que era pra fazer uma festa fixa e o pessoal lembrou de nós por que sabia que a gente produzia. Aí se criou a SubGrave que foi uma festa que rolou durante um ano, inclusive o Fábio Machado (DJ carioca) tocou lá.

DNB Online - Vocês já conheciam esses caras antes?

Cardoso – A gente conhecia de ir em festas, porque lá rolava a Quarta Quebrada e a gente era conhecido por gostar de drum'n'bass e eu por divulgar drum'n'bass no meu e-zine. Eu volta e meia falava: “produzo pra mim”, mas não mostrava muito. Quando comecei a mostrar pra alguém foi pro Patife, quando ele esteve em Porto Alegre. Levei um CD pra ele e pro Marky também, e aproveitei e levei pro pessoal que mexia com drum'n'bass na cidade. Foi aí que ficamos mais conhecidos.

DNB Online - E hoje como estão as produções, festas etc.?

Cardoso – A SubGrave acabou ano passado. Hoje tem a Super Quinta, que é um projeto do Nando Barth. Rolaram alguns rachas com o pessoal do SubGrave, ninguém brigou, mas aí uns foram saindo aos poucos por que era um projeto que exigia tempo e não dava um retorno financeiro legal, era meio complicado. E eu também acho que a música tem que se profissionalizar um pouco, sabe ? Eu mesmo só ganhei o suficiente para me divertir, mas enfim, é o que vale por enquanto. E como diz o Nando Barth: “tocar é acumular horas de vôo”, se você está lá tocando para uma ou mil pessoas, sai igual. De qualquer forma o Nando montou a Super Quinta e ele sempre convidou os DJs para participarem desse projeto. Agora a situação é essa, a gente tem tocado na Super Quinta D&B, o Double S e o Silvio Freitas do Neo estão querendo reformular a SubGrave com a gente controlando o projeto.

Nes – É, essa história veio quando o Fábio Machado tocou lá, fez um agito forte e os caras queriam abrir de novo a noite de drum'n'bass lá. E outra coisa que está rolando lá agora é que abriu o Lov.e e toda a sexta rola drum'n'bass com o Navarro como residente. Navarro é tipo o “tio da galera”, ele é velhão e tal.

Cardoso – Ele e o Nando Barth são as tias velhas da cena eletrônica, eles tão há muito tempo na história.

DNB Online - Foram eles que começaram com o drum'n'bass em Porto Alegre?

Cardoso – Direto. E o Dani também. Só que o Dani é da zona metropolitana e é engraçado que ele falava: Canoas é techno e Esteio é drum'n'bass, tipo, cidades da zona metropolitana que não rola muito D&B, é mais techno. O Navarro, o Dani e o Fidel foram residentes da Quarta Quebrada, e esses foram os primeiros projetos.

DNB Online - Vocês acham que existe algum DJ de Porto Alegre que possa vir a se destacar nacional e internacionalmente como o Marky, Patife e etc..?

Nes – Com certeza. O Carlos NC manda muito bem, o cara sabe o que tá fazendo, foi também um dos caras que estavam nessa primeira festa que foi um fracasso, ele veio conversar, ficou falando direto, me contou a história dele, que ele era um playboyzão, ia para a noite pra pegar mulher e buscar confusão. Até que teve um dia que ele ganhou um vale-CD e pegou um do Patife. Quando ele escutou, foi a primeira vez que ele ouviu drum'n'bass, decidiu ser DJ, foi e se especializou mesmo. Ele tem muita técnica e um repertório ótimo, mas o bom é que no Sul todos têm um excelente repertório.

DNB Online - Em Porto Alegre tem muitos produtores também, não é?

Cardoso – O Nando tem produzindo direto há algum tempo, nós também, o Carlos NC já se aventurou em fazer algumas coisas. O Kras fez uns remixes. Todo mundo lá está a fim de investir em produção própria. O Dani está fazendo muita coisa também, ele montou um estúdio com o DJ Monstro, DJ clássico de hardcore lá de Porto Alegre.

Nes – E eles tão lançando um selo, o Picolé Records...

Cardoso – Em breve os Organizers sairá por este selo. O Nando tem trabalhado em algumas músicas nossas pra mandar pra fora, fazer dubplate. Então nós estamos investindo, tentando algo com o Fábio Machado também.

DNB Online - Por falar em Fábio Machado, qual a importância dele pra vocês e para a cena de drum'n'bass de Porto Alegre?

Cardoso – O drum'n'bass em Porto Alegre era mais leve, com o Navarro e o Fidel, por exemplo. Mas o Dani sempre “sentava a mão”. E o pessoal sempre gostou de um drum'n'bass mais jazzy, digamos assim. Quando rolava um DB mais pesado, expulsava todo mundo da pista. Quando o Fábio Machado foi pra lá ele acabou fazendo uma “lavagem cerebral”, e todos passaram a ouvir este tipo de drum'n'bass mais pesado, saca? Os próprios DJs mesmos começaram a tocar assim também. O Nando Barth, por exemplo, tocava sempre uma linha mais "cabeça", tipo um “drum'n'trance”, agora ele está tocando umas coisas mais pesadas, Panacea, gitaria, GRRRRRRR !!!! (risos)

Nes – Uma época ele tocava até umas coisas mais ambient mesmo. Me lembro quando ele foi convidado para a Quarta Quebrada ele fez um set bem ambient, batida viajandona mesmo, nada voltado pra pista, diferente de seu repertório de agora.

Cardoso – Agora o drum'n'bass em Porto Alegre é mais voltado para pista. Tem o Luciano Peixoto que pega bem leve, é um cara bem jazzy e o Navarro depende do lugar, pode tocar bem leve ou bem pesado. O Nando também é assim mas não tenho visto ele tocar leve não, é sempre pesado agora.

DNB Online - E o Rio de Janeiro? Depois de 6 meses, o que mudou, o que o Rio significa pra vocês?

Cardoso – No Rio a cena ficou mais forte e pesou o som. Agora eu fiquei muito feliz quando nós viemos pela primeira vez, na Bunker nós podíamos tocar um pouco mais hard, mas mesmo assim é um peso mais controlado, comparando com o T’ai Head. Na Casa da Matriz o Calbuque e o Dalua tocaram antes de nós e tocaram leve. A gente tocou um pouco mais pesado e foi meio estranho por que a galera depois veio falar: “Bah, bem legal, mas curtimos mais aquele tipo de som com violãozinho”. Um outro cara me falou que aqui no Rio o esquema era mais light mesmo. E até pensei em produzir algum tune nessa linha para quando voltar tentar agradar mais. Só que aí quando voltamos, primeiro, achamos a Matriz mais lotada, também tinha muita gente lá vendo o Marky e o Bryan Gee no Zero Zero.

Nes – Uma coisa que eu acho aqui é que, é que pode até rolar “briguinha” e tal, mas é um lance de união, a galera sempre se encontra nas festas e tá junto, tá bebendo junto e tá fazendo a festa junto, entendeu ? Lá em Porto Alegre também rola isso e eu acho importante em qualquer lugar, por que aí tu é sempre bem recebido.

DNB Online - E São Paulo? Vocês pensam em ir pra lá, tocar?

Cardoso – Com certeza, nós temos que pensar em São Paulo... hoje em dia o mercado de drum'n'bass existe basicamente em São Paulo. No resto do país existem tentativas mas está consolidado mesmo em São Paulo. Na verdade não está tão consolidado assim, mas lá é um ponto de referência mundial. E é a porta de saída para o exterior. É em São Paulo que a gente tem que conseguir entrar.

DNB Online - Você acha que algum DJ de outro estado pode ficar conhecido internacionalmente sem precisar ir pra São Paulo?

Cardoso – Eu tocar em São Paulo não significa que eu deixe de ser de Porto Alegre. Eu sou gaúcho sempre. Um DJ do Rio toca em São Paulo, também, vai ser um DJ carioca. Eu só acho que a cena com mais visibilidade no momento é a de São Paulo, então se o cara toca lá tem uma certa visibilidade que, se fosse tocar em outros estados não teria. Mas gostaria muito que o mundo olhasse para os outros estados também como o Rio ou o Rio Grande so Sul, claro.

DNB Online - Os DJs do Rio raramente tocam em São Paulo.

Cardoso – Os de Porto Alegre também! Mas mesmo assim existe uma cena bem consistente. Eu acho que é questão de tempo botar no mercado os outros estados e São Paulo tem que ajudar! A evolução é fácil de sentir: o número de pessoas nas festas aumentou, as pessoas estão ligadas na música que vai entrar porque elas reagem na pista, elas gritam, comemoram determinadas tracks. Elas sabem o que o DJ tá tocando, elas agora sabem o que querem escutar. Isso é bom, conhecimento dentro da cena é sempre bom. E, entre os seis meses que separaram as nossas vindas ao Rio, a gente evoluiu muito. A tendência é crescer!

DNB Online - Ouvi dizer de uma pessoa conceituada na cena que em 2 anos o Brasil vai se tornar uma potência da música eletrônica assim como a Europa.

Cardoso – Já tá assim, todo mundo quer vir tocar aqui, tu vê o que foi o line up do Skol Beats, os melhores DJs de cada estilo tocando num megafestival no Brasil que não deve nada a nenhum realizado na Europa.

DNB Online - Algumas pessoas tem um certo preconceito com o drum'n'bass, acham muito barulhento, é a coisa do “não ouvi e não gostei”. Como é isso em Porto Alegre?

Cardoso – Em Porto Alegre existem dois tipos de público bem evidentes, esxistem os que são os "naftalinas" e os "clubbers", que são os publicitários modernos. Não falo isso num sentido ruim, Porto Alegre é uma cidade que tem muito publicitário. E é um pessoal que fica sabendo sobre esse estilo de música rápido, é um pessoal mais antenado. E eles acabaram fazendo com que isto se tornasse mais aceitável, hoje em dia muita gente lá suporta e tolera o drum'n'bass, tanto que a Super Quinta rola num lugar chamado Casa Amarela que é um tradicional reduto rock da cidade. Ou seja, o público do rock vai lá e o da eletrônica também. Em contrapartida, tem o Revolver, que é uma casa de rock que não quer que a música eletrônica entre. Então existem os dois tipos de público bem definidos e tem também raríssimas exceções, que são as pessoas que vão em todos os tipos de festa. É um público bem definido, entre rock e música eletrônica, e mais definido ainda, que é o público de drum'n'bass e das outras vertentes, como o house e o techno.

Nes – Mas o mais legal é que tem uma galera que que tá sempre no drum'n'bass, que estão em todas as festas e que tu vê sempre.

Cardoso –A melhor coisa das festas de drum'n'bass em Porto Alegre é que atrai muita mulher, é o ritmo de música eletrônica que mais atrai a mulherada e os homens vão tudo atrás, né? E é muito bom, as festas de drum'n'bass são sempre divertidas.

DNB Online - O que vocês costumam escutar hoje em dia?

Cardoso – Nós temos fases. Tem umas que a gente escuta só punk rock, direto, e fazendo drum'n'bass. A gente escuta muito downtempo e trip hop também, as batidas lentas também são muito importantes.

DNB Online - Vocês acham que podem viver de música?

Cardoso – Sim. Acho que sim por que eu vou te dizer uma coisa: a gente já produziu pra publicidade, sabe, a gente já compôs trilha sonora de comercial, de curta para TV... e pagam bem, saca ?

Nes – É, dá uma grana legal mesmo.

Cardoso – É o seguinte: a gente foi contratado por uma produtora de som, que é a Som Guia, um dos braços da produtora Ginga, que é a maior produtora de jingles do Estado. E aí a Som Guia precisava de uma trilha eletrônica de drum'n'bass e aí o Firpo, que é publicitário, nos ligou perguntando se a gente fazia e nós falamos que sim. Aí cara, em 30 segundos de música, foi um minuto no total divididos em dois spots de 30 segundos, a gente ganhou o equivalente a dois meses de salário meu normal. E trabalhamos um dia só no estúdio. Por prazer. E fizemos a batida em meia hora, o baixo em mais meia e aí demoramos umas horas para acertar a guitarra, que era do Lourenço Schmidt, da Som Guia, uma guitarrinha bem bacana. Ficou bom.

DNB Online - Vocês pensam em fazer um Live PA?

Cardoso – Sim. É um sonho antigo. Uma vez até nos convidaram. Tem um cara lá em Porto Alegre chamado Serguei, que organizava o chamado “Arrasta-pé do Serguei” no sítio onde morava. Ele chamava os amigos dele e colocava uns DJ lá pra tocar, uma galera da produtora Re:existência. Aí um dia ele nos convidou, aliás, acho que não foi nem ele e sim uma pessoa em seu nome, pra fazer um Live PA. Daí falei: “precisamos de 2 computadores”. E aí o nosso computador da época era um Pentium 133 meio baleadão que volta e meia dava tela azul, ou seja, tu tava lá no Fruity Loops e de repente...BUM

Nes – É, como se fossem dois discos tocando e você adicionando os efeitos aos pouquinhos...

Cardoso – Ia ser legal, ia ser muito bom. Mas aí ele só tinha um computador pra nos oferecer e a gente ficou com medo de botar o nosso com tela azul, podia dar pau bem no meio. Ia ter que dar um crtl+alt+del e quebrar toda a estrutura da festa, ia ser um vexame. Aí achamos melhor não. Mas é tranquilo de fazer, é só ter 2 computadores.

DNB Online - De onde saiu o nome Organizers?

Cardoso – Nós estavamos fazendo a nossa página no mp3.com, porque precisávamos botar nossa música na internet, né? Aí.. um grande problema, que nome que a gente vai dar ? O nome das nossas músicas já entrega que a gente não tem muita criatividade para nomes: uma é Perneta, outra é Ouvindo Perneta (risos). Tem uma chamada El Mix. Bernardo Maníaco 11, coisas assim, que a gente escreve pra se lembrar depois. Aí um dia a gente tava trocando de canal na TV, pensando em que nome dar, pensando em um nome por canal. E a gente se olhava e perguntava se determinada palavra se encaixava. Até que uma hora...Organizers!!!! nos olhamos de novo e “é, até que Organizers pode ser ” (risos). ORGANIZERS, tá ligado? E aí depois eu fiquei pensando depois: “Olha, é Organizers, a gente podia pintar o "RS" com as cores do Rio Grande do Sul !”. Óhh, que sacada !! (risos). E foi assim, não teve muito galho não.

DNB Online - Qual o melhor set que vocês já fizeram ?

Cardoso – Petrópolis, foi muito bom por que a galera tava muito a fim. Vendo o vídeo, nós notamos que teve uns momentos que dava até uns arrepios, na boa, a galera vibrando... A maior parte do tempo eu fico achando que só eu vou gostar das nossas músicas. E sempre saio pra tocar sem pretensão nenhuma e quando vejo que o cara tá lá dançando, curtindo, com a mesma pilha, é muito bom.

DNB Online - Qual a música que vocês mais gostam de tocar?

Cardoso – Up To The Sky. E gosto também de Champion. Sempre gostei de tocar Champion em Porto Alegre.

Nes – É que ela tinha uma outra versão antes, era menos agressiva, mais tranquila, 3 minutinhos. Era só o tempo da música, toda a música cortadinha e o vocal montado em cima da batida.

Cardoso – Aí eu fiz uma versão porrada. Botei a batida mais aguda, mais forte, tipo um Congo Natty, o baixo pegando. E depois de 3 minutos com o vocal do Buju Banton entra um baixão, que eu fico imaginando de botar o MC Mario Z cantando.

Para conhecer as músicas do Organizers clique no link abaixo. http://www.tramavirtual.com.br/artista/organizers/index.jsp

Entrevista e fotos: Joca Vidal (http://www.mood.com.br/)
jocavidal@terra.com.br


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