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Seinfeld Style
Publicado originalmente no blog Tripa Nelas Tudo, no dia 23 de março de 2005

Não sei bem QUANTAS vezes acordei antes da DEFINITIVA nesta quarta, mas lembro que foram MUITAS. Ainda que os GARGAREJOS pluviais noite adentro tenham fornecido leveza e um certo fator de SEGURANÇA inexplicável ao sono, nas horas iniciais da manhã os pingos já eram PREGOS, e castigavam as telhas GORJEANDO quase como que ANUNCIANDO auroras invisíveis por detrás das nuvens.

Após cutuques FRATERNOS, ligações de televisores e alarmismo RADIORRELÓGICO, foi a polifonia CELULÁRICA quem me pôs, enfim, em pé, por volta das OITEVINTE. Meio frio, o dia, pensei, eu, de cueca, escovando os dentes. Meteoros molhavam as calçadas lá fora, um ZABARULHÃO de cristo AFU de tempestade. Temi pelo meu DESTINO. Após o enxagüe bucal, ESTRALEI joelhos, voltei pra cama e me cobri de COBERTAS enquanto aguardava um possível contato CANCELOSO para a jornada que se mostrava VIRTUALMENTE impossibilitada pelas condições climáticas.

Durante um tempo, NADA ocorreu. Decidi, então, me vestir, para que não atrasasse POR DEMAIS o desenrolar dos eventos. Enquanto escolhia um par de CALÇAS não tão finas que me causassem ARRUPIOS nos pêlos das COXAS, nem tão grossas que as fizessem SUAR, foi que o telefone RINGOU. Corri em seu SOCORRO enquanto aos berros me chamava: era Tainá. Tu viu a chuva que tá aí fora? Vi, e parece que só vai parar amanhã. Tu acha que dá pra ir hoje? Tu prefere esperar pra ir amanhã? Amanhã o homem não pode. Então não tem ir amanhã: é HOJE.

Abri a minha mochila e a abasteci com a velha RICOH carregada de um ASA 400, três fitas e um dos meus gravadores. Depois clamei ao CASAQUISTÃO por um ABRIGO com o qual protegeria minhas carnes COSTEIRAS da chuva, enfiei o celular num bolso e a carteira num outro. Liguei pro TELETÁXI. Ocupado. Nunca havia acontecido. Estranhando o fato, corrigi o número. Farmácias sei-lá-que-raio. Voltei aos antigos dígitos. Ocupado outra vez. Aí tive de chamar no ANGLICISMO: two-in-a-row? what are the odds? Fui pra terceira vez. Já eram quase NOVE. Ocupado. Porra, é perseguição.

Enquanto pensava em correr pro GUIA em busca de alternativas, meu avô apareceu no meio do caminho perguntando: então tu botou uma CAPA VERMELHA pra ir pra natação hoje?. Ao mesmo tempo em que lhe explicava que não iria nadar por conta desta breve AUSÊNCIA que se avizinhava, passei os olhos apressados por sobre os muitos números de serviços similares de transporte. Nenhum me dizia NADA. Resolvi dar um tiro no escuro tentando a QUARTA: por fim atenderam. Tempo de espera: dez a quinze minutos. Nove e quase CINCO. Buenas, não estou mesmo em posição de PROTELAR.

O ônibus sai às 10, me disse antes Tainá. Nove e TRINTA eu devia estar ESTALANDO pela RODÔ, conforme combinado, mas já me estava acomodando os pensamentos à idéia de um pequeno ATRASO. Só espero que ela ESPERE - era só o que pensava enquanto o CARRO DE PRAÇA lá pela frente não buzinava. De repente BUZINOU. Entrei: fui. Só pra contrariar minha lógica, o motorista de hoje era um NAZI, que dirigia como se comandasse um PANZER e ainda por cima ficava tecendo comentários anti-ÉTNICOS a cada freada brusca que dava. Levei cagaços com sua RUDEZA dirigibilística. O trânsito de Porto Alegre anda uma SELVA.

Exijo até o último centavo entre os 34 que me deve de TROCO e eis que levo UM de brinde. Esqueço o CHOFER MAU xingando um COLEGA de profissão e vou largando fora na CORRIDA. Adentro o RECINTO escorregando enquanto procuro pela minha REPÓRTER. Faltam pouco menos de QUINZE minutos para a partida do COLETIVO. Derrapando os pés molhados por entre os GUICHÊS que vendem INTERMUNICIPAIS, escuto a ESTRIDÊNCIA que me chama. Perco HORAS procurando correspondência em OLHOS. Ahá, por fim vejo: é claro que DEMORO: porta imensos óculos e guarda-chuvas, disfarçada de JORNALISTA. Pesa-me RESPONSABILIDADE.

Compramos pilhas e canetas e quando vemos já estamos sentados no ACONCHEGO do veículo que sai, sem maiores atrasos. Ao longo de todo o trajeto, vou sendo lentamente convencido pela minha INTERLOCUTORA de que devo realizar EXODUS - MOVEMENT OF JAH PEOPLE de minha cidade NATAL e partir CONFIANTE em direção ao MUNDO, que, provavelmente, me espera de braços abertos. Enquanto vamos destilando geniais diálogos que ASSOBERBARIAM o mais LINKLATER dos RICHARDS, a estrada vai ficando menos e menos molhada. A chuva parece querer nos dar uma trégua.

Em dado ponto do trajeto, o GALERA liga para nos lançar a seguinte pulga atrás da orelha: o Rio Grande do Sul OSTENTA, em verdade, DUAS cidades chamadas SANTA CRUZ. Uma delas tem um "do SUL" servindo de SUFIXO; a outra, não. Por conta da solução da dúvida, observo pela primeira vez - e com alguma atenção - o comprovante das passagens que Tainá acaba de retirar do bolso. No campo "Destino", lê-se, claramente, Santa Cruz do Sul/Venâncio Aires. Pensei: melhor ficar ligado, senão vamos parar no lugar ERRADO.

Após o que nos pareceu tempo SUFICIENTE para atingir o destino, eis que o ônibus realizou a sua PRIMEIRA parada. Apressamo-nos em levantar e descer do carro. Por sorte, o motorista decidiu CONFERIR os canhotos antes de RABISCAR um visto esperto e, franzindo o CENHO, dirigiu-nos a palavra: pra onde é que vocês estão indo?. Santa Cruz do Sul. Então é na próxima parada, depois do trevo da UNISC. TRINTA QUILÔMETROS mais tarde, sentimos ALÍVIOS por não termos descido no lugar errado, que, só saberíamos muito mais tarde, tratava-se de VENÂNCIO AIRES.

Santa Cruz do Sul nos recebeu suavemente MORNA e SECA. Foi na rodoviária mesmo que arriscamos nossa saúde ALIMENTAR, experimentando uns desses COMBOS pré-prontos embalados em isopor e papel filme que estão virando MODA nas lanchonetes de beira de estrada. O meu levava o nome de MINI XIS DE FRANGO; o dela, CACHORRO QUENTE. Nada de muito LUÍS QUINZE, mas também bem longe do PAUPÉRRIMO. O meu lanche, ao menos, era bastante COMÍVEL, apresentando até mesmo algum tipo de SABOR. E ainda custava a BAGATELA de DOIS E MEIO contos. O cão da Tainá aparentava baixa tendência ao PEDIGREE: salsicha enrolada num CACETINHO de padaria ainda com as marquinhas da FORMA aparentes. Parecia OK.

Tínhamos cerca de vinte minutos até a hora marcada para a ENTREVISTA, então decidimos dirigir nossas dúvidas a respeito da LOCALIZAÇÃO das LOCALIDADES a que nos PROPÚNHAMOS chegar aos atendententes do outro lado do balcão. Meia hora de caminhada, dizem. Mas não se aconselha ir a pé. É perigoso. De táxi demora quanto? Uns cinco minutos. Sorrio um NERVOSISMO escondido debaixo dos BIGODES. A pé ou de táxi, a verdade ainda era uma só: fatalmente conheceríamos uma BOCADINHA ENCARNADA da BANDA em muito breve. O senso de AVENTURA latejou FORTE. Um dente lá no fundo da boca DOEU.

Tainá rabisca um ESQUELETINHO básico de perguntas e saímos em direção aos táxis. Realmente, em pouco menos de cinco minutos estamos deixando a BR para trás e subindo um MORRINHO dos mais suspeitos até encontrar o que acreditamos ser nossa PARADA FINAL. O aspecto visual lembrava, em MUITO, a entrada do ZÉ DA DROGA, o famigerado centro de recuperação de drogados INDEPENDENTE que existia (existe?) ali em VIAMÃO. Chegamos à Secretaria de Obras. A porta fechada. Batemos. Ninguém atende. Uma mulher aparece perguntando se o NENI está aí. Não sabemos. Num ÍMPETO súbito, Tainá abre a porta e me convida a seguí-la rumo ao DESCONHECIDO, adentrando o prédio escurecido e deserto. Ao fundo, ouvimos sons do que parece ser uma rapaziada DESCONTRAÍDA mandando ver na diversão.

Então uma loirinha, falando no celular, emerge do escuro de uma sala com a porta entreaberta e nos pergunta sobre nossos objetivos. Explicamos nossa missão; a loirinha nos diz que ERRAMOS o alvo. Nosso ENTREVISTADO já não mais trabalha ali, mas sim cerca de cem metros para TRÁS. Depois que saímos da sala, Tainá revela que os sons de FESTA que ouvíamos correspondiam a um animado CHURRASCO, que era comandado logo adiante de uma ESQUINA que não quis dobrar dentro do prédio, levemente intimidado pela presença da ALEMOA. Parece que tinha um cara PILCHADO e tudo no meio do ROLO. Não questionei. No momento, estava mais preocupado com o tamanho de nossa PERNADA por entre a suposta região PERIGOSA da cidade, em busca do verdadeiro ALVO.

Curtinha a caminhada, e sem nenhum CAGAÇO, pra falar a verdade. Ainda que a paisagem fosse um tanto SINISTRA, o mau tempo certamente havia contribuído para a baixa na atividade da PERAMBULAÇÃO MAL INTENCIONADA, de modo que rapidíssimo encontramos a GUARITA que procurávamos e, segundos depois, enfim, nosso ALVO.

Um homem simpático, inteligente, bem articulado. Enquanto Tainá lhe extraía HORAS de informações diversas, eu fazia POSES de profissional e combinações de diafragma e obturador na máquina. Visitamos alguns RECANTOS do município em busca de imagens que ilustrassem nossas intenções. Tainá conversava com os moradores; eu enfiava o pé INTEIRO na LAMA em busca do melhor ÂNGULO. Em um destes lugares, vi-me pisoteando COGUMELOS próximo a uma PLANTAÇÃO DE ZEBUS e quase me abaixei para coletá-los, mas pensei que talvez pegasse MAL PRA CARALHO.

Para encerrar a matéria com chave de OURO, bati as últimas chapas do orgulhoso proprietário ao lado de sua FROTA: um Fusca 73, um Santana 93 e um KARMANN-GHIA que de KARMANN-GHIA tinha só a CASCA, já que todo o interior havia sido montado com peças VOLKSWAGEN. Além de tudo, dirigia um GOL verdescuro, com o qual circulamos pela cidade boa parte da tarde. Praticamente um FANÁTICO da marca. Ponto pra nós. Fiz questão de comprar um filme de 12 poses EXTRA pra dar conta dessa etapa derradeira. Era um ASA 100, e a garagem carecia de LUMINOSIDADE, mas vamos torcer para que tenha ficado LINDAÇO.

Trocamos apertos de mão e abraços, compramos passagens, voltamos pra casa. Enquanto o dia ia embora, fiquei olhando os campos amarelados do iluminando lado de fora da janela e, pela primeira vez na vida, me dei conta de que meu lugar talvez NÃO seja mais aqui. Depois de ouvir isso de tanta gente e achar BESTEIRA, preciso repensar minhas crenças e admitir, nem que seja acrescido de uma dose de QUIÇÁ, que Porto Alegre está começando a ficar pequena DEMAIS também pra mim.

FOTOGRAFIA UM X CARDOSO ZERO

Sobre as CHAPAS que bati em Santa Cruz do Sul:

De: "Ronaldo Bressane" bressane@paragrafo.com.br
Para: "Cardoso" afpc@terra.com.br
Cópia:
Data: Fri, 1 Apr 2005 14:40:07 -0300
Assunto: sem foco!

Velho,

as fotos chegaram.

Desculpe a sinceridade, pero están una MIERDA...

Mas valeu messs pelo esforço de reportagem.

Será que o cara não quer vender aquele KG não?

abraço
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Ronaldo Bressane
www.vw.com.br/revistav


Destreza fotográfica: eis aí um TALENTO artístico que não DESENVOLVI adequadamente. Primeira grande MANCHA na minha proeminente carreira de HOMEM RENASCENTISTA. Não vos ABALAI, sussura aquela vozinha INTERIOR esperta. Ora PORRAS, é sempre tempo de se EDUCAR, completa.

EREBANGO a cabeça cima-baixo enquanto aplico um ANTI-MOCASSIM de CONCÓRDIA.

Em especial nestes períodos de quase-ÓCIO empregatício.

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