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COL entrevista Laerte na Funarte
Jamais publicado em lugar nenhum. Estava esquecido nos meus arquivos desde 2000.

Tínhamos bebido cerveja durante a noite toda perambulando pela Francisco Morato e ainda voltamos pra casa pra matar pelo menos meia garrafa de Passport. Isso sem contar a garrafa de Smirnoff que eu e o Träsel compramos quando saímos pra dar um passeio por Pinhreiros no começo daquela mesma tarde. Meio acordado meio sonolento naquele confortável subcoma pós-sono ouvi movimento na sala e no fundo a impressão de um chuveiro ligado. O Galera ainda tentou nos acordar mas ninguém deu muita bola. Umas duas horas depois saiam os outros. Eu e a Clarah ficamos dormindo no apartamento do Marcelo Silva Costa e do Alexandre Petillo enquanto o Träsel assumia o papel de mediador em um debate entre o Laerte e o Lourenço Mutarelli na Funarte, já que o convidado oficial para a função simplesmente não havia aparecido. No final do debate o Mutarelli fugiu rapidinho mas o Laerte aceitou o convite pra tomar uma ceva com a gente.

[träsel]: Eu gosto muito do traço dele, eu gosto muito do traço dele...

LAERTE NA FUNARTE

Um belo começo de tarde de sábado no ano do senhor de 2000

[LAERTE]: Eu tive um episódio muito chato assim no começo da vida profissional do Mutarelli, que aconteceu na Revista Circo. Naquela época eu era meio que o editor da Circo, já que o Luiz G tinha viajado. E eu sou uma BOSTA de editor, eu não consigo editar nem uma folha de papel higiênico com merda em cima. E ele apareceu desesperado pra fazer quadrinho, ele DECLAROU que queria fazer quadrinho e eu tava vendo o material dele sem muita vontade de publicar, mas sem dizer pra ele que não queria publicar. Ficava ensebando. Isso tudo eu tou dizendo porque ele mesmo já disse numa entrevista, eu altamente constrangido fui lá, pedi desculpa, foi um horror, mas hoje já tá tudo bem. Foi isso, eu ensebei ele durante um monte de tempo até que um dia ele apareceu, aí eu falei: "Ah, agora não adianta porque a Circo acabou", e tinha acabado mesmo! Então quando ele falou hoje que a Cybercomix tá acabando, me deu assim meio que um eco desse episódio, sabe?

[galera]: Mas tu ficou também bastante na Cybercomix, né? Eu li duas ou três histórias...

[LAERTE]: É, mais ou menos. Eu mandei...

[galera]: Como é que é, eles encomendaram pra ti?

[LAERTE]: Não, eu mandei porque eu gosto de fazer história. Me convidaram, depois acabou a minha capacidade de fazer histórias, de fazer histórias longas assim, porque todo meu tempo profissional tá tomado por fazer tiras, fazer miudezas, fazer pickles, assim.

[galera]: Não tá mais fazendo história comprida então?

[LAERTE]: Num tô, mas eu tou com uma no gatilho que eu tou louco pra fazer e meio que me fudi porque essa história era relacionada com os 500 anos...

[galera]: Passou.

[LAERTE]: É uma pena... Mas ela é tão legal que eu acho que eu vou fazer (risos).

[träsel]: Tu fazia...

[LAERTE]: (ainda rindo pra caralho) Vou esperar os mil anos...

[träsel]: (aquela risadinha pra não perder o amigo) Tu fazia aquelas histórias na Chiclete com Banana contando vários episódios, tipo os bandeirantes...

[caon]: ...Pena de Morte, Moto...

[träsel]: ...tudo na Piratas do Tietê...

[LAERTE]: Essa da Pena de Morte acho que já foi na Circo.

[träsel]: Aquela dos negros, que era genial também, da escravidão...

[LAERTE]: Essa foi na Geraldão.

[träsel]: Na Geraldão, né?

[LAERTE]: A Circo tinha um pool de revistas que era o Chiclete com Banana, Geraldão...

[träsel]: Niquel Náusea.

[LAERTE]: Niquel Náusea não... e Piratas. É um erro isso, né? Quer dizer...

[galera]: Tu acha que teria que ter uma só?

[LAERTE]: Eu acho que sim.

[galera]: Teria sobrevivido mais tempo?

[LAERTE]: Eu não sei também, porque a idéia de ocupar lugares na banca com mais títulos não é errada, é uma boa idéia também.

[caon]: Tu acha que teria que derrepente ter diversificado alguma coisa?

[LAERTE]: Eu não sei, eu não sei. Às vezes eu tenho a sensação de ficar julgando o trabalho do Toninho (Mendes): "Ah, porque se ele tivesse feito isso e aquilo." Mas por outro lado, puta, nunca mais vi ninguém fazer o que ele fez, sabe?

[träsel]: Então porque terminaram? Elas não vendiam?

[LAERTE]: Foi uma combinação de crise econômica do país com uma falta de fôlego financeiro da editora, como comprar papel, fazer estoque e tátátá com uma estafa dos autores, mesmo porque cada revista daquelas era feita por uma pessoa, basicamente. A Chiclete com Banana era feita pelo Angeli, a Piratas era feita por mim. A Geraldão não era feita pelo Glauco, ela era feita pelo Toninho. O estafado no caso do Geraldão era o Toninho. Mas enfim, era coisa assim "one man show", então o sujeito agüenta durante um tempo só, depois...

[galera]: E com essa publicação de trabalho na internet tu teve um retorno do tipo: quantas pessoas liam, quantas escreviam pra comentar... Porque a internet nunca se mostrou assim como um canal onde se poderiam publicar histórias mais longas, ou coisas que não são tirinhas.

[LAERTE]: Eu acho que a internet não é um canal para quadrinho tal como a gente vê o quadrinho na tela. Acho que a internet é um puta canal, mas prum negócio que ainda não foi muito bem desenvolvido. Não sei se é animação, se é um negócio interativo... Não tem ainda alguém pensando com a cabeça do negócio. Andei vendo umas experiências aí, não sei se cês chegaram a ver o Scott McCloud?

[träsel]: Scott McCloud?

[LAERTE]: Não tem um negócio assim...

[träsel]: O Paul Auster escreveu um romance em hipertexto, parece...

[LAERTE]: Pois é, tem experiências mas tá tudo ainda numa fase de experimentação. Eu acho que vai ter uma linguagem que é internética mesmo, que vai ser assim um negócio rápido, que baixa rápido, principalmente isso, que não encha o saco.

[galera]: Bah, é foda, né? O cara esperando baixar a tirinha...

[träsel]: O cara que não tem cable modem...

[LAERTE]: 5% de 2760... (risos) Você ali pra ver um negocinho que é BUM! (mais risos)

[träsel]: A idéia dos Piratas do Tietê saiu daonde, hein?

[LAERTE]: Ah, eu sempre gostei de misturar um negócio de fantasia - geralmente clichê, assim, estereótipo de fantasia - com o cenário realístico de São Paulo.

[galera]: Eu acho que tem um exemplo que é uma das tirinhas mais legais que tu já fez, que era aquela dos cavalos lá. Eram pouquinhas, umas quatro ou cinco. Eu lembro que meu pai leu uma vez e ele falou assim: "Bah, eu acho genial porque dá impressão de que ele tá fazendo isso só porque ele descobriu um jeito legal de desenhar cavalos. Tava louco pra desenhar cavalos."

[LAERTE]: Teu pai tem razão.

[galera]: Eu achei superinteressante. É um humor sutil, eram situações domésticas com cavalos.

[LAERTE]: É legal porque aí tu tem uma estranheza quando lê.

[galera]: Não tinha começo, meio e fim, mas no conjunto fazia um sentido. Tu procura explorar mais esse tipo de tirinha, elas têm tanta aceitação quanto as convencionais?

[LAERTE]: (enfático)Tem! Tem, mas elas têm vida curta também. Eu descobri que é da natureza delas. Uma parte do meu trabalho é as coisas serem efêmeras. Por exemplo, "Os Palhaços Mudos" era uma história só, mesmo. Eu tentei dar uma segunda vida ali e me fudi, porque a história é muito ruim, a segunda...

[galera]: Eu lembro da primeira.

[LAERTE]: É, que é legal. A Dona Mercedez também, que é uma personagem que eu adoro, mas eu resisti bem à tentação de fazer outra história com ela porque era aquilo: chega. Tipo, é meio da natureza do troço que eu faço. São ecos também fazer uns cavalos e umas piadas meio loucas assim e pronto, cabou. Aí faz outras. (risos)

[galera]: E o Overman, esgotou também? Tá desenhando o Overman ainda?

[LAERTE]: Não, o Overman dura, eu acho que dá.

[galera]: Dura, né? Eu também acho.

[LAERTE]: Dá. Desde que eu tenha umas idéias legais.

[träsel]: Qual é a origem do Overman, afinal?

[LAERTE]: (muitos risos) Essa é a parte mais legal!

[galera]: Tem muita origem do Overman. Tem uma historinha comprida... tem mais? Tem aquela que tava no Cybercomix, tem aquela que eu vi na tirinha, né, que ele é seqüestrado por uma tribo...

[LAERTE]: Ele é seqüestrado pelo Cabral...

[galera]: Tem mais origem ainda...

[träsel]: Ah é, essa é a que tá dando na Zero Hora agora.

[LAERTE]: Ah, tá!

[galera]: Mas ela já deu há tempos na Folha. Na ZH chega bem depois.

[LAERTE]: O legal é você ficar fazendo um monte de origem pro seu personagem. O que não muda nunca é a situação concreta dele, que ele é duro pra caralho, ele mora numa pensão, ele não fica fazendo trabalho de herói assim...

[träsel]: Ele é um anti-herói?

[LAERTE]: Ele é tão anti-herói que ele é plágio do Space Ghost. Toda hora parece que é plágio mesmo! (risos)

[träsel]: O Ésquilo é pra ser um Robin, assim?

[LAERTE]: Não, é só um cara que divide o aluguel ali.

[galera]: Um companheiro de quarto.

[träsel]: É até mais engraçado... E Deus, tu continua fazendo?

[LAERTE]: Pois é, mas é tudo estereótipo, assim. Deus: um cara velho de barba, triângulo, olhinho e tal. Tudo assim. Pirata? Ah, tem perna-de-pau, tapa-olho, tudo assim.

[galera]: Essa tua personagem de Deus é o Deus mais humanizado que eu já vi, não só de quadrinho mas de qualquer coisa que eu já vi.

[LAERTE]: (Risos)

[galera]: Ele é mais comum que as pessoas comuns.

[LAERTE]: Óbvio, ele é do contra, né?

Nesse ponto da gravação as primeiras cervejas começam a fazer efeito, então durante uns 10 segundos todo mundo fala com uma linguagem carregadíssima de palavrões, ao mesmo tempo, em tom cada vez mais alto, até que tudo explode numa gargalhada coletiva. Depois o silêncio.

[caon]: Falando um pouco do Pasquim. O espaço pra esse tipo de publicação que é alternativa mas não é alternativa, que sempre teve essa pilha de contestação e de ser de esquerda mas não ficou no esquema limitado do xerox e se transformou numa revista super respeitada... o que tu acha disso?

[LAERTE]: Você sabe por que eles fizeram isso? Porque eles assumiam a responsabilidade de ser parte mesmo do sistema. Eles fizeram a contestação do poder militar naquela época porque eles eram a sociedade que tava ofendida, eles eram os cidadãos que pagavam impostos, eles eram donos de colunas, eles assinavam colunas. E eles assinavam colunas porque eles sabiam das coisas, porque eles estavam à altura de participar de debates nacionais e eles sempre souberam disso. Isso que foi cortado com o AI-5 de 68 foi a maturidade da oposição brasileira. Depois do AI-5 nunca mais apareceu oposição madura. Apareceu um monte de oposição, mas todas com uma auto-visão, uma auto-avaliação de "nós somos moleques". O nosso poder é ser fodão, é ser moleque.

[galera]: Zine?

[LAERTE]: É, zine, é uma cultura de zine mesmo, que é uma cultura legal. Mas esta coisa que o Pasquim foi um dia, eu acho que nunca mais se recompõe. Nem com a Bundas.

[träsel]: Que que tu acha da Bundas? Tu não acha que a Caras é bem mais engraçada?

[LAERTE]: (Risos) É. Cê viu o Roberto Carlos? Eu quase caí duro quando eu vi. Olha... cê viu a última Caras? É uma foto tirada de longe. De longe de araque, né, porque é tudo combinado, eu acho... É o Roberto Carlos na janela rezando assim, e ele tá com o cabelo branco, parece um Maharishi (risos) e ali rezando. Sim, porque depois que a Maria Rita morreu ele ficou inconsolável. Então, ele está assim uma figura, que é ducacete aquilo. Eu acho que é o maior exemplo de um grande golpe de marketing, muito bem sacado, melhor que fotografar os peitos da... da... de quem, né? Qual é a mulher hoje que não tá com os peitos numa revista?

[galera]: Tá todo mundo mostrando os peitos hoje...

[LAERTE]: Então. Mas o Roberto Carlos de cabelos brancos, meio careca, de mãos postas na varanda, porque é uma foto meio de longe, meio desfocada, com uns galhos na frente, tudo produzido. Gênio, gênio o cara que bolou isso. Melhor que a Bundas.

[träsel]: Por que o Laertón era o gay no Los 3 Amigos?

[LAERTE]: Ah, sei lá. Acho que porque eu sou bi, não sei... (risos)

[träsel]: Sacanagem deles, do Glauco e do Angeli?

[LAERTE]: É... É... Não... É... Acho que é meio coincidência (muitos risos). Não. Não sei, caiu bem...

[galera]: Los 3 Amigos não tão mais fazendo nada?

[LAERTE]: Não, Los 3 Amigos acabaram e acho que não tem como continuar. Acho que foi meio química de grupo assim. Quando dá certo, dá certo e quando passa a não dar certo não adianta ficar empurrando também. Aí fica chato fazer, perde a graça...

[träsel]: O Angeli continua fazendo, mas acho que é só com...

[LAERTE]: O Angeli faz?

[träsel]: Eu vejo de vez em quando...

[LAERTE]: Não é requentada?

[träsel]: Ah, pode ser requentada...

[galera]: Aliás, o que o Angeli tá desenhando além das charges?

[LAERTE]: Nada, nada. Acho que o Skrotinhos.

[galera]: O teu traço é bem definido, bem característico. Mas eu me lembro que os teus primeiros desenhos eram muito parecidos com os do Henfil, né? Aquelas eram as tuas primeiras tiras?

[LAERTE]: Não, eu sou muito chupão assim, eu tenho umas fases que eu pego uns caras que eu tou curtindo assim e vou em cima mesmo.

[galera]: Mas acho que hoje em dia o teu traço tá bem característico...

[LAERTE]: Cê que tá dizendo.

[galera]: Não tem como achar semelhança com outros.

[LAERTE]: Cê não conhece o Gary Larson?

[galera]: Conheço, eu tenho vários livros do Gary Larson, é o cara aquele...

[träsel]: Das vacas?

[galera]: É, muito legal. Meu irmão tem uma camiseta com uma história dele.

[LAERTE]: Isso é um negócio legal de fazer, né? Tem um vizinho meu que é fotógrafo, ele tem um livro... Esqueci o nome dele. Ele é um puta designerm, sabe? É designer mesmo, um cara que manja. E o cara é cartunista também, então muito dos trabalhos dele tem essa cara de cartum, muito legais. Ele volta e meia pega uma imagem do livro e camiseteia.

[galera]: Eu tinha uma camiseta do Capitão, que eu mandei fazer na Centrocópias.

[LAERTE]: Eu também! (risos) Eu tenho uma do Capitão que eu acho a mais legal dele que conta que quando ele era menino o pai dele odiava mentira, punia. Então quando ele contava uma mentira o pai dele pegava a mão dele e cortava um dedo (risos). Aí no terceiro aparece ele "O gozado é que cresce de novo." (mais risos)

[caon]: Essa coisa meio do nonsense assim, do "Moto", desse tipo de influência, veio de onde? Tem Harvey Pekar no meio?

[LAERTE]: É legal. Ah, não sei. Minha mãe. Minha mãe é meio assim. (risos)

[galera]: Também uma muito legal é a da tatuagem da joaninha que...

Nesse exato momento eu e Clarah chegamos à Funarte com os Malditos Ácaros do Microcosmos. Na mesa logo na entrada, as latinhas de ceva já se empilham.

[caon]: (Apresentando) Laerte, Cardoso...

[LAERTE]: Ê! Cardoso!

[caon]: Cardoso, Laerte...

[cardoso]: Prazer...

[LAERTE]: Cardoso, prazer!

[galera]: E tu lê o COL?

[LAERTE]: Hein?

[galera]: Tu recebe o COL?

[LAERTE]: Recebo. Eu leio, eu leio... mas não leio tudo...

[träsel]: Ah, nem a gente lê tudo.

[LAERTE]: Eu acho impossível ler tudo.

[träsel]: São 160 páginas por mês.

[LAERTE]: É, não, é muita coisa. Ah, não sei, um dos comentários é esse: tinha que fazer um troço mais curto.

[galera]: É, a gente vê que texto curto...

[LAERTE]: (Enfático) Não, não, não! Não é o texto curto, é o mail curto.

[galera]: A edição, a própria edição.

[LAERTE]: O cara ter menos o que ler ali...

[galera]: Na verdade a gente já quebrou a equipe de colunistas ao meio porque tava maior que isso

[LAERTE]: (Muitos risos)

[träsel]: Todos escreviam em todas as edições.

[galera]: Aí a gente quebrou porque tavam reclamando...

[LAERTE]: Não, mas é muito legal, eu gosto de ler. É uma mistura assim de crônica com ficção, com crítica, bem legal.

[galera]: Como é que tu descobriu o COL, foi tu (apontando pro Cardoso) que mandou pra ele?

[träsel]: Não, foi a Clarah.

[galera]: Cadê a Clarah?

[LAERTE]: Foi a Clarah...

[galera]: Naquela época a gente fazia spam ainda.

[LAERTE]: (Risos) Ela me mandou um mail...

[galera]: Cardoso, já que tu chegou aí, puxa uma cadeira, toma uma cerveja...

[cardoso]: Pera que eu tenho que ver um lance do crachá aí.

[LAERTE]: Tem também essa parte do boca-a-boca na divulgação

[cardoso]: Onde tem cerveja?

[galera]: Naquele freezer ali.

[LAERTE]: Eu também falei pra algumas pessoas - nah, nah, o CardosOnline, esse zine é legal. Tinha uma amiga minha lá, gaúcha, que conheceu também porque eu falei pra ela. Ela ia no NÃO.

[galera]: Ah, o NÃO.

Aí a Clarah chega.

[LAERTE]: Ah, você que é a Clarah? Prazer, eu sou o Laerte. Como vai, tudo bom?

[Clarah]: (Meio sem graça) Prazer...

[träsel]: Outro fanzine que é bem famoso, principalmente lá em Porto Alegre. Por aqui o pessoal conhece?

[LAERTE]: Não muito.

[galera]: Mas ele é muito mais linkado em sites de São Paulo do que o COL. Não sei se é lido...

[LAERTE]: Mas eu vou fazer uma página de links... (gargalhadas histéricas gerais)

[galera]: No dia que aparecer nosso link na página do Laerte nós vamos botar lá na do COL. Questão de honra agora.

[marcelo silva costa]: Hein?

[galera]: Nah, é que tem uma piada. Uma vez a Clarah mandou um e-mail pro Laerte, ele respondeu combinando de fazer uma troca de links...

[LAERTE]: Pois é.

[galera]: ...a gente ficou esperando e não aparecia nunca. Aí a gente foi ver e na página do Laerte não tem seção de links. (mais gargalhadas histéricas gerais)

[LAERTE]: Na época eu tava fazendo a página de links mas nunca rolou...

[galera]: Virou piada daí.

[LAERTE]: Bom, primeiro que eu sou muito lento nesse negócio de me relacionar com esse pessoal que faz o site. Chama Insite. Segundo porque eu sou muito ruim de mexer nisso, porque eu poderia fazer eu mesmo, eu poderia fazer eu mesmo isso aí. Mas eu não sei.

Primeiro momento de silêncio constrangedor. Laerte concentra seus esforços na menina que está lhe fazendo companhia, que logo acabou identificada como a Indigo Girl, escritora de contos na rede há vários séculos. Galera levanta e dá uma volta por dentro do auditório da Funarte. Ele logo volta a sentar com o pessoal na mesa.

[cardoso]: E aí, como é que tá o negócio lá?

[galera]: Bem legal, mais cheio que aquela hora.

[cardoso]: Tão há muito tempo conversando já?

[träsel]: Tamo batendo um papo aí.

[galera]: Dez minutos já.

[cardoso]: Bah, que amarração pra sair de casa.

[träsel]: Que que houve, cara?

[cardoso]: Não, não houve nada, é que a gente foi lá na casa dos Ácaros...

[galera]: De quem?

[cardoso]: Ô meu, a gente ficou uma hora lá se amarrando...

[galera]: Bah...

[cardoso]: (puxando papo com o Laerte) Tem algum projeto?

[träsel]: É, alguma informação exclusiva?

[LAERTE]: Ah, tem o... tem uma... Não, essa não pode contar. Toninho pediu pra não contar. Nah, mas tem desenho animado.

[indigo girl]: (surpresa) Desenho animado?

[träsel]: (tão surpreso quanto) Desenho animado?

[cardoso]: Nah, agora fala, a gente pode até não botar, mas agora fala pra gente.

[LAERTE]: É que eu quero fazer. Não era pra contar também.

[cardoso]: Em off, pronto.

[todos]: É, em off.

[LAERTE]: Ah, eu quero fazer um desenho animado...

[galera]: Com quais personagens?

[LAERTE]: Aliás, isso não é segredo, qual é? Há muitos anos eu quero fazer desenho animado.

[träsel]: Com qual personagem? É coisa nova assim ou não?

[LAERTE]: Não sei, a minha idéia inicial era tipo com Os Gatos, assim. Fazer uma coisa com muito poucos cenários.

[cardoso]: Quase que nem Luís Fernando Verissimo e "As Cobras".

[LAERTE]: É!

[cardoso]: Marca registrada já. Mas é uma animação bem fácil daí, Os Gatos.

[LAERTE]: É, a idéia é essa. É um grafismo muito gostosinho, assim.

[cardoso]: É, o preto e o branco...

[LAERTE]: Tanto que na internet é uns fundos, uns fundos...

[galera]: O tema também é legal.

[LAERTE]: É, é.

[cardoso]: Relacionamentos.

[träsel]: Os Gatos é um diálogo bom.

[caon]: Tu chegou a pensar em fazer animação em Flash? Alguma coisa? Tem um monte de gente aí fazendo...

[LAERTE]: Pensar sim, mas eu ainda não consegui aprender a mexer naquele negócio...

[cardoso]: Mas tem que fazer em acetato e...

[LAERTE]: Toda hora eu entro no tutorial ali... agora vai!

[caon]: Agora...

[cardoso]: Agora vai!

[caon]: Porque tem um monte de gente fazendo né? Tem ahn...

[träsel]: É, o ZÍBER (*), por exemplo. O Allan ZÍBER já faz.

*NOTA: É o Allan Sieber, mas é que o Träsel chama ele de ZÍBER na gravação. E reforça.

[LAERTE]: Quem?

[cardoso]: Quem?

[träsel]: O Allan ZÍBER

[LAERTE]: (se dando conta) Ah, tá!

[träsel]: Ele só faz em Flash.

[LAERTE]: Mas não é Flash aquilo, é?

[cardoso]: É Flash.

[caon]: É Flash.

[träsel]: Aquilo é Flash.

Silêncio.

[galera]: Flash...

[caon]: Ele vive fazendo clip. Aliás, tem um VJ da MTV que fez um clip agora em Flash, o Marky.

[LAERTE]: Ah, eu não sei. Eu achei que era super bico fazer essas animações e tudo o mais. E aí um dia eu quis fazer um salva-tela, assim com os gatinhos, né?

[caon]: Ahã!

[LAERTE]: Puta, passei uma tarde inteira lá com a menina que mexia lá no Flash tentando fazer o gato andar pela tela! E ficou tosco!

[galera]: Porque eu acho que isso é uma que tem que se dizer: é uma coisa complicada. Tem a parte tecnológica e tem a parte de animação, quer dizer, não deve ser a mesma coisa que desenhar quadrinhos.

[cardoso]: É um trabalho...

[träsel]: É um puta trabalhão, né?

[galera]: Fantástico!

[LAERTE]: Não, mas parece fácil. Como você desenha quadrinhos e você sabe que aquilo se movimenta, você sabe a teoria. O de praxe. Você fala: "Ah, deve ser bico fazer animação."

[galera]: Não é.

[LAERTE]: Muito difícil.

[cardoso]: Já conseguiu desenhar um? Já conseguiu fazer se mexer?

[LAERTE]: Já...

[cardoso]: É? Eu desenhava. Uma época tentei fazer um daqueles livrinhos... falhei miseravelmente.

[galera]: Eu tenho vários, eu tenho vários daqueles livrinhos. (pausa) Não dava certo nunca, né?

[cardoso]: Ah, tem uns que eu faço...

[marcelo silva costa]: Falhou miseravelmente... (risos)

[cardoso]: Mas homem-palito, cara, pode ser que funcione mais pra ti.

[galera]: Ah, mas o homem-palito eu não queria, né?

[cardoso]: Ah, te fudê!

[träsel]: (irônico) Ih, tá malicioso isso aí.

[galera]: É.

[cardoso]: Abandonei.

[LAERTE]: É, esse é o projeto. Fora isso sei lá, eu quero fazer teatro, quero fazer cinema, quero fazer...

[cardoso]: Escrever?

[LAERTE]: (catogórico) Não. Escrever não. (risos)

[cardoso]: Tá, mas cinema tu quer fazer um roteiro de cinema?

[LAERTE]: É, é.

[cardoso]: Mas aí é escrever.

[LAERTE]: (Puto da cara) Ah, não, não é escrever! Não é a mesma coisa que literatura, não.

[cardoso]: Não, é quadrinho, até porque é arte sequencial.

[träsel]: É, não é escrever.

[galera]: É, não é literatura.

[caon]: Não, não, eu como roteirista sou um péssimo escritor.

[LAERTE]: Primeira coisa que eu li naquele livro do Syd Fields...

[cardoso]: Aquele de roteiro, que até hoje a gente usa.

[LAERTE]: É... que escrevendo você não está fazendo literatura, você está fazendo um filme.

[cardoso]: É, mas isso é o modo hollywoodiano de fazer filme: roteiro de filme é neutro...

[LAERTE]: É, mas de um modo geral, concordo com ele.

[träsel]: Ah, não, o Syd Fields nisso ele tá certo.

[LAERTE]: É parte de um filme, não é parte de uma obra literária.

[träsel]: Não pode, por exemplo colocar no roteiro: "o personagem pensa".

[LAERTE]: Você pode comprar um livro roteiro dum filme do Fellini, por exemplo, e ler, mas cê sabe que aquilo não é um livro.

Caon se levanta e começa a perguntar por mímica através de gestos se as pessoas querem cervejas, mas acaba logo passando pruma abordagem mais verbal.

[caon]: ...Galera? Quer uma ceva, Laerte?

[LAERTE]: EU BEM QUE QUERO. Cê vai buscar?

[clarah]: Eu quero!

[caon]: Tá, vou pegar.

[cardoso]: (apontando a caixa cheia de COPs) Baixa a caixa.

[galera]: Baixa que tá sobrando.

[clarah]: Onde tem COP?

[galera]: Botamos na mesa e tem uma caixa embaixo, pode pegar lá.

[cardoso]: Tu faz roteiros? Tu trabalha com roteiros? Tu fazia TV Colosso, né?

[LAERTE]: É, eu e o Giba Assis Brasil. Conhece o Giba?

[cardoso]: Professor da FABICO, eu já tive aula com ele.

[träsel]: Eu já trabalhei com ele.

[clarah]: Todo mundo já trabalhou com ele.

[LAERTE]: Nós fizemos o roteiro do "Super Colosso". Se ele tá escondendo isso, fala pra ele. (risos)

[galera]: É, ele não fala sobre, né?

[cardoso]: Ele que fez, é? Bah!!! (risos)

[LAERTE]: Ele e eu!

[galera]: Não sabia que ele fazia.

[cardoso]: Eu também não sabia.

[LAERTE]: A gente se trancou num hotel-fazenda chamado Atibainha... Fala pra ele assim: "É... o Atibainha..." (gargalhadas histéricas de todos)

[galera]: Que que aconteceu com o Giba no Atibainha?

[LAERTE]: Veio o Laerte lá... (mais gargalhadas)

[clarah]: Vamo! Entrega ele! (risos) Agora, conta mais, conta mais.

[träsel]: É, conta mais.

[galera]: É, é.

[cardoso]: (Risos)

[LAERTE]: (Sério) Ele me ensinou tudo que eu sei.

Segundo silêncio constrangedor. Os bebuns se encarando, loucos pra rir.

[träsel]: Não, o Giba é um cara muito sério.

[LAERTE]: Mas ficou uma bosta o filme, eu acho. (risos) Mas ele falou uma coisa tão engraçada assim: assiste um filme chamado "Aconteceu em Paris", né?

[cardoso]: Bah, ele adora esse filme.

[LAERTE]: É! Porque tem o cara, o que que ele tem que fazer? É um roteirista de Hollywood que na verdade ele pegou a grana e tá bebendo o dia inteiro, aí chega o deadline. O deadline que ele tem pra entregar aquele negócio. Aí o estúdio manda uma secretária pra lá que é a Audrey Hepburn, com quem vai acontecer o romance do filme. Mas daí ele chega ali: "Ah, não, é fácil fazer um roteiro, quer ver?" Pega as folhas, né? Pega as folhas. Aí ele pega tantas folhas e espalha tudo no chão, em fila. Aí fala assim: "Aqui, o título. Aqui, não sei o quê. Aqui, não sei o quê." Ele vai andando com ela assim: "Aqui o personagem está andando, não sei o quê." Né? "Aqui: conflito" (risos). Aí tem a volta...

[cardoso]: Na terceira ou quarta aula o Giba passa essa cena pra turma e fala exatamente isso. Ele adora esse filme.

[LAERTE]: Ah, o resto do filme é chato.

[cardoso]: Ah, eu não sei, mas é o escritor bêbado aquele que é forçado a trabalhar de roteirista.

[LAERTE]: É, é.

[cardoso]: E aí ele se sente tri amargurado, não tem tempo, tem deadline e pá. Mas é boa, a idéia parece boa.

[LAERTE]: E ela é uma secretária profissional.

[cardoso]: Certinha, certinha.

[LAERTE]: Super pro, né? E ela vai tentando tomar notas daquilo. (risos)

[cardoso]: É muito engraçado ela atrás dele tentando arrumar...

[LAERTE]: Que ele quer provar pra ela que o roteiro já está pronto!

[cardoso]: É, sim, ele fala pra ela que o roteiro já tá pronto.

Nesse momento o Caon passa a desenvolver um gigantesco monólogo sobre as aulas do Giba e do Canali na FABICO, do qual não deu pra extrair muita coisa devido à distância do cabiludo ao microfone e também porque o nosso amigo adotou um tom de voz extremamente BAIXO, tornando-o praticamente inaudível no meio da barulheira da própria fita chiando.

[träsel]: E agora tu tá fazendo roteiro pra TV?

[LAERTE]: Pra TV, Sai de Baixo.

[träsel]: Sai de Baixo, é?

[LAERTE]: Sai de Baixo, tou fazendo o especial de Natal.

[träsel]: Eu não assisto TV, também...

[LAERTE]: Hã?

[cardoso]: Tu assiste TV?

[LAERTE]: (se enroscando na Indigo Girl) Agora um pouco menos, porque só estou namorando ela...

[clarah]: Tu escreve sozinho o Sai de Baixo?

[LAERTE]: Não, tem 3 equipes... não, tem 4 equipes, cada equipe com umas 4 pessoas em média e cada equipe produz um programa. Além disso, cada programa passa pela equipe dos redatores finais, que são 3: Cláudio Paiva, o Juca e o César, então é SUPER de equipe. A parte autoral, assim, expressão individual ali é só com o Fallabella.

[clarah]: É, o Jorge (Furtado) tava falando que eles mudam horrores o roteiro, né? Tipo acabam com piadas e coisas assim.

[LAERTE]: É, apesar da direção tentar preservar o mais possível assim, muito comum acabar a piada. Mas era pior no tempo do Tom Cavalcante porque ele...

[clarah]: Ah, e aí? Totalmente estrelão?

[LAERTE]: Ele acabava com todas as piadas.

[clarah]: Dá pra notar.

[LAERTE]: O que cê jogasse nele... primeiro porque ele não entende a piada, depois porque ele não decora, aí ele só fala uma frase assim e faz a graça que ele sabe fazer, mesmo...

[clarah]: Que não tem graça, vamo combinar... Pera um pouquinho, ele é o cara mais tosco do mundo! Bah, horrível!

[Indigo GIrl]: O cara é muito sem graça.

[clarah]: TOTALMENTE sem graça, eu nunca dei um SORRISO!!!

[LAERTE]: Quando ele saiu, o Sai de Baixo subiu barbaridade.

[clarah]: Achei uma pena que a Ilana não ficou no Sai de Baixo, eu achei ducaralho...

[LAERTE]: Qual Ilana?

[clarah y caon]: Ilana Kaplan!

[LAERTE]: AH!

[caon]: Ela fez a empregada.

[LAERTE]: Que Ilana?

[clarah]: A Ilana Kaplan é uma atriz que fez quando a... a... como é o nome da mulher aquela que saiu que era a primeira empregada?

[LAERTE]: A Edileuza.

[galera]: Cláudia Gimenez.

[clarah]: Ela saiu, aí a Ilana entrou. Ela fez um ou dois programas e náo gostaram dela.

[LAERTE]: A empregada, né?

[clarah]: É. Mas ela é muito boa, ela é uma excelente atriz.

[LAERTE]: É, a Marcia Cabrita...

[clarah]: Eu não gosto.

[LAERTE]: Entrou uma aí um dia desses que tem um sotaque nordestino que era muito engraçada. Eu gostei do pique dela. Não tinha nem tanta piada boa pra ela mas ela tinha um pique muito legal, assim, sabe? Ela fazia uma candidata à empregada que o Caco tratava como garota de programa... um jogo de frases assim que ela tava muito bem, fiquei impressionado.

[clarah]: Como era o nome dela?

[galera]: É essa nova, agora?

[LAERTE]: Não.

Ruídos indecifráveis, sons muito baixos e cheios de estática. Shite. Comentários sem grande importância, ao menos espero.

[LAERTE]: Nesse de Natal a Edileuza volta. A Cláudia Gimenez volta, faz uma aparição. Como Edileuza. Num conta isso...

[galera]: (falando mais perto do microfone) "Não contar isso."

Mais ruídos indecifráveis. Todo mundo falando ao mesmo tempo. No meio das vozes pode se distinguir algumas palavras como "traço", "gaúcho", "quadrinho" e "influência". Devemos estar voltando a falar de quadrinhos.

[LAERTE]: Agora me lembrei do Jaca, que também é um fazedor de...

[galera]: Jaca?

[cardoso]: Pô, o Jaca!

[LAERTE]: É, o Jaca! Faz uns logotipos muito legais.

[cardoso]: Na ZH uma época tinha muito desenho dele.

[galera]: Não me liguei.

[cardoso]: É ducaralho!

[clarah]: É gaúcho?

[LAERTE]: Ora... Com esse nome, "Jaca"...

[cardoso]: Sei lá.

[LAERTE]: Ele morou aqui um tempo, ele e o Adão (Iturrusgarai) dividiam um apartamento que era dum outro gaúcho, o Edson...

[cardoso]: O Adão vai tar aí?

[galera]: O Adão?

[träsel]: É, ele ia vir aqui, né?

[galera]: O Adão não vem.

[LAERTE]: Não, ele não vem.

[cardoso]: Bah, que pena.

[LAERTE]: É uma pena mesmo. Ele é bem independente. (risos)

[clarah]: Ele é tão independente que não vem.

[LAERTE]: Pô, tem uma propaganda da... cês viram?

[galera]: Eu ainda tenho uma pilha de BIG BANG BANG lá em casa.

[träsel]: Eu tenho duas!

[galera]: Naquela época ele desenhava assim: AAAAAAAAAAAHHHHH!!!!!

[träsel]: Ache o Long Dong Silver.

[galera]: É, ache o Long Dong Silver.

[träsel]: Ache o Long Dong Silver era ótimo.

[caon]: (Risos)

[galera]: Bah, aquelas histórias...

[träsel]: Long Dong Silver na praia...

[galera]: ...uma vulgaridade assim exponencial.

[träsel]: (apontando pro Laerte, que tava meio perdido no meio das nossas risadas): Tu não viu essa tira? Tinha um passatempo: "Ache o Long Dong Silver." Daí era só um monte de coisa empilhada e uma cabeça de pau no topo. E a outra era o Long Dong Silver na praia, daí dava o Long Dong Silver e uma mulher. Aí a mulher: AI!

(gargalhadas histéricas de todos)

[träsel]: Do lado, aqui assim.

NOTA: Seja lá que diabo isso signifique.

[galera]: Essa aí é muito trash.

[caon]: Um que faz umas historinhas muito trash é o Marcatti.

[galera]: Marcatti. Marcatti eu não vejo, não vi mais...

[cardoso]: Pois é, onde é que tá ele?

[LAERTE]: O Marcatti era o independente por excelência. Ele tinha uma gráfica nos fundos da casa dele.

[clarah]: Onde é que é o banheiro?

[galera]: Ele tinha uma revista que era só dele, né? Qual era o nome daquela revista que era só dele?

[LAERTE]: Ah, ele teve várias, mas era tudo assim: "Mijo", "Bosta"...

[galera]: Assim, eu lia Angeli, Marcatti, Laerte...

[LAERTE]: ..."Vômito"

[galera]: ...quando eu tinha seis, sete anos de idade. Me alfabetizei com essas revistas, meu pai comprava tudo, né? Tinha pilhas.

[caon]: E as capinhas do Ratos de Porão, né?

Ruídos incompreensíveis.

[caon]: Saiu algum álbum do Marcatti?

[LAERTE]: Marcatti?

[cardoso]: Saiu, saiu, "Glaucomix" saiu.

Mais ruídos.

[träsel]: Tem um álbum do Marcatti, o "Glaucomix".

[LAERTE]: É antigo isso.

[träsel]: Mas Porto Alegre é...

[cardoso]: É "Glaucomix, o Pedólatra".

[träsel]: É, "O Pedólatra". Bah, em Porto Alegre chegou há poucos dias...

[cardoso]: ...Não!

[träsel]: É que a gente mora no Uruguay, sabe como é que é...

[caon]: (risos)

[LAERTE]: Ah, eu não sei, acho que ele continua na dele, fazendo... fazendo... ele tinha uma mania que era arrotar muito alto, ele arrotava muito alto.

[galera]: A Clarah.

[caon]: É, a Clarah.

[cardoso]: Clarah.

[LAERTE]: Hein?

[träsel, galera y caon]: Tipo a Clarah, assim.

[cardoso]: Cadê a Clarah?

[LAERTE]: Ah, nunca vi a Clarah arrotando assim...

[galera]: Ah, mas daqui a pouco ela vai arrotar. O arroto dela é alto.

[träsel]: É o mais alto do COL. Aliás, ela é o mais macho do COL.

[caon]: (tri convicto) É, o mais macho.

[träsel]: E ela é nossa mãe também.

[LAERTE]: Garotas... (risos)

[träsel]: Ah, sei lá, vamos fazer um perfil do Laerte. Qual é a tua marca de papel higiênico favorita?

[caon]: (cai na gargalhada)

[LAERTE]: Personal.

[träsel]: Desodorante.

[LAERTE]: BARAQUINI. Esse é forte.

[träsel]: Baraquini? (pausa) Não conheço.

[LAERTE]: Tá vendo? (risos)

[galera]: Aplicar questionário...

[träsel]: Camisinha. Eu prefiro a Preserv.

[LAERTE]: Olla.

[träsel]: Olla?

[cardoso]: Olla!?

[träsel]: Nunca usei Olla.

[cardoso]: Bah, Olla...

[träsel]: É aquela que vem em várias cores?

[cardoso]: É a pretinha...

[LAERTE]: Padrão.

[galera]: (reflexivo) Olla...

Silêncio de embriaguez. No fundo, o som das pessoas que vão se acumulando no espaçoso pavilhão da Funarte começa a crescer, misturado a alguma melodia indie que toca nos alto-falantes. Clarah se vira pra Indigo Girl.

[clarah]: Cara, eu gosto MUITO dos teus textos. Muito muito!

[indigo girl]: Ah, eu adoro os teus também!

[clarah]: Ah, que bom!

[galera]: Momento chananim.

[träsel]: Que mais que a gente pergunta? Além de camisinha, papel higiênico e desodorante?

[LAERTE]: Uma coisa legal que a gente fazia na Chiclete com Banana era uns artigos assim sobre...

[träsel]: Ah, sobre banheiro!

[LAERTE]: É, banheiros de bares de São Paulo.

[galera]: Eu lembro.

[LAERTE]: Bem legal.

[cardoso]: Absorvente, papel higiênico, chiclé...

[träsel]: Fósforo.

[LAERTE]: Fósforo.

[träsel]: Acho que ganhou o Fiat Lux.

[caon]: Nhé. (um nhé legítimo, com todas as letras)

[LAERTE]: É que também chega uma hora que esgota, né?

[clarah]: Oh yeah.

[träsel]: Ah, mas era divertido aquilo.

[caon]: Muito divertido.

[träsel]: Aliás, a Chiclete é uma lástima que tenha terminado.

[LAERTE]: Pois é, ela foi bem legal.

[träsel]: Por que tu acha que terminou assim a...

[LAERTE]: É essa combinação de crise financeira do país...

[träsel]: Não, porque naqueles anos teve assim um boom dos quadrinhos.

[cardoso]: O que não tem é leitor.

[LAERTE]: Não, leitor tem! Leitor tem. O que não tem é regularidade pra esse leitor se manter ativo, então os leitores ficam no ar...

[träsel]: Eu fico puto. Por exemplo, eu tava comprando a "Hard Boiled" aquela...

[LAERTE]: Tem pelo menos 50 mil caras pra comprar a Chiclete com Banana, mas você precisa ter a revista. Se tiver a revista na banca, tem 50 mil pra comprar. Pro Angeli tem, com certeza, pra ler o Angeli tem.

[träsel]: Nah, é que por exemplo... (longa pausa) Ah, meu exemplo me escapou agora.

[caon]: (morre de rir)

[galera]: Quer que eu tire isso daqui? (pegando a lata de ceva)

[träsel]: Não, pode deixar... agora, não sei... digo assim, leitor pra quadrinho de verdade, não aquelas Marvel porcaria, tu acha que tem?

[LAERTE]: Então, quadrinho cabeçudo! É isso aí. É isso que eu tou dizendo: tem. Tem sim.

[galera]: Eu acho que tem.

[LAERTE]: Porra, bicho. Tem e é uma coisa com a qual você pode contar. Para mim, por exemplo, leitores de Laerte, eu acho que dava pra sustentar uma revista de 10 a 15 mil exemplares.

[cardoso]: Mas e por que não se faz isso?

[LAERTE]: Porque não se faz!

[caon]: (Ri pra caralho, depois todos riem)

[cardoso]: A gente é acomodado. Que merda, né?

[träsel]: É isso aí, vamos relançar a Chiclete com Banana!

[LAERTE]: Não é só acomodado, a gente tem primeiro o genoma atrapalhando a gente. A gente não tem genoma de quem vai pra frente. (risos) Tem uma determinada cadeia lá que falta, puseram uma de rã no meio, uma de perereca (mais risos)

[galera]: Aí fudeu.

[LAERTE]: Fudeu, porque a gente passou a fazer

[träsel]: Axé.

[LAERTE]: Não, aí é outra coisa. Primeiro porque a gente não faz mesmo, segundo porque... não, não sei eu vejo a coisa como um grande complexo assim: os quadrinhos cabeçudos acabam sendo preocupação só de editoras muito pequenas, que não tem...

[cardoso]: Mas não adianta esse argumento de que vende, de que tem público, para editoras grandes?

[träsel]: É que as editoras não acreditam.

[LAERTE]: Não acreditam, não adianta...

[cardoso]: Mas não tem como dar uma prova disso?

[LAERTE]: Teve já! Na época da Chiclete com Banana se abriu espaço em banca pra 100 mil exemplares, a Chiclete vendia 100 mil exemplares.

[cardoso]: Vendia os 100 mil?

[LAERTE]: Vendia os 100 mil, batendo recorde.

[cardoso]: É uma tiragem muito absurda mesmo.

[LAERTE]: É absurdo! Só que ninguém investiu no pra trás disso, de montar uma infraestrutura industrial, editorial, que garantisse a revista lá. Você ficava só tentando vender aqueles 100 mil exemplares: "Êêêêêêêê!!" Pasquim também quando vendeu... Quantos eles venderam? Não vendia pouco. Enfim, sei lá quantos mil. Mas eles venderam aquilo, compraram jato, fizeram...

[träsel]: Compraram jato?

[LAERTE]: Compraram jatinho.

(Risos)

[LAERTE]: Ah, vamo pra Belém: nhóóóóó!!

[träsel]: Ah, não, que afudê comprar um jato!

[LAERTE]: Porque é coisa de cara que nunca teve um puto pra pagar uísque, ficava pendurando uísque. Aí derrepente enche o cu de dinheiro, sabe? A primeira coisa que faz é comprar um jato pra ir pra Belém no fim de semana.

(Risos)

[caon]: (rindo) Olha a merda, cara...

[galera]: O que é a natureza humana, né?

[LAERTE]: O que é a natureza humana? É o que faz esses caras fazerem essas revistas, esses jornais que foram engraçados, que foram legais, que o Brasil inteiro olhava e falava "ha, que legal". Se eles fossem diferentes, acho que não fariam isso. Aliás dizem que o pessoal do Monty Python é também um rolo em matéria de administrar, assim, materialmente.

[träsel]: Tanto que o único que ainda existe é o John Cleese.

[cardoso]: Não, tem aquele outro...

[galera]: Terry Gilliam?

[träsel, caon y cardoso]: Terry Gilliam!

[caon]: Sim, até o Terry Gilliam continua fazendo animação e coisa e tal.

[träsel]: Ah, é?

[caon]: Todas as animações do Monty Python eram dele.

[LAERTE]: É todos eles estão meio de pé por aí, né?

[cardoso]: Os que tão vivos...

[LAERTE]: Como é que chama o Idle?

[cardoso]: Eric Idle.

[LAERTE]: Eric Idle! Adoro esse cara!

[cardoso]: Eu gosto desse cara também.

[träsel]: Eric Idle é o loiro, né?

[cardoso]: É o loiro, é o Brian do "Mundo de Brian."

NOTA: Demonstrando o estado etílico em que os interlocutores se encontravam, Cardoso confunde Michael Palin com Eric Idle legal.

[LAERTE]: Não, não! Eric Idle?

[cardoso]: Sim!

[LAERTE]: Não é aquele que fazia sempre papel de mulher?

[cardoso]: Não, aquele era o Michael Palin, na real. O Eric Idle é o alemão aquele com uma cara de louco, olho azul.

[LAERTE]: Ah, tá!

[cardoso]: Quem fazia sempre papel de mulher é o Michael Palin e o John Cleese, que eram umas mulheres que ficavam gritando uma com a outra.

[träsel]: É, eram umas velhas aquelas...

[LAERTE]: (arrisca uma imitação mas logo desiste e cai na risada)

[cardoso]: Cara, que absurdo aquilo.

[träsel]: Bah, Monty Python era muito bom, pena que não passa mais nem na TV a cabo agora.

[caon]: Aham.

[LAERTE]: Tem um site com os roteiros todos deles, é muito legal, às vezes eu vou lá e fico só lendo assim...

[caon]: Eles lançaram até jogo, né?

[träsel]: É, tem um jogo do Monty Python.

[caon]: Tem um jogo do Monty Python que é uma piada, uma grande piada interna.

[LAERTE]: Mas olha, nenhum ficou milionário, não.

[cardoso]: Não, não.

[LAERTE]: Nenhum deles. Dizem que tinha brigas homéricas, que essa história de harmonia grupal era tudo conversa...

[cardoso]: Eu vi uma vez um documentário da BBC, acho. Falava que as brigas do Monty Python eram um troço muito animal. O John Cleese... chegou uma época que a BBC censurava os episódios deles e eles meio que às vezes na coragem botavam episódios sem passar pelos censores e ia pro ar coisas que a BBC não aprovava. Só que o John Cleese ficou muito amigo da diretoria, passou pro lado negro da força.

[LAERTE]: (Risos)

[cardoso]: Então ele que era o principal responsável, ele boicotava as idéias dos colegas. Começou a rolar uma briga e quebrou o grupo.

[träsel]: Eu acho que o melhor programa do Monty Python foi o dia que começou o programa: "Ah, hoje a Rainha da Inglaterra vai assistir mas o programa não vai mudar nada por causa disso: aí aparece o John Cleese de terno e gravata atrás de uma mesa apresentando o programa. Aquele era o melhor. Eles se arriavam um monte na Rainha da Inglaterra.

[LAERTE]: Uma coisa que eu sempre invejei, em americano principalmente, é como eles mexem com o poder. Sabe? Imagina a gente fazer uma série de TV que nem o Spin City, que um dos personagens é o prefeito da cidade mesmo...

[cardoso]: De Nova York!

[LAERTE]: É, de Nova York, que tudo é real.

[cardoso]: No Brasil tu faz isso, o que acontece? No Jornal Nacional eles anunciam que tem uma liminar que vai impedir a exibição da série...

[LAERTE]: É, é.. quer dizer: "tudo é real"; tudo é ficção, né? Mas você pode, em muitos filmes aparece o próprio Presidente da República falando um monte de merda...

[indigo girl]: É, e a gente tem personagens maravilhosos pra fazer isso...

[LAERTE]: Puta, tem de sobra!

[indigo girl]: O Itamar, por exemplo.

[LAERTE]: Itamar, ACM... aí que tá: eu acho que no Brasil é tão difícil você fazer esse troço que quando você pode, você vai com tanta sede ao pote que você acaba fazendo uma coisa odiosa, uma coisa de ódio.

[cardoso]: Casseta & Planeta faz isso.

[indigo girl]: E eles fazem muito bem, né?

[träsel]: Nah, aquelas dublagens são maravilhosas!

[cardoso]: Não, é engraçado, é bom aquilo. Apesar de eles estarem fazendo dentro da fórmula mensal que geralmente mata programa. Cansa. Eu não consigo mais ver assim direto.

[galera]: Eu não vejo direto.

[träsel]: É, mas é um bom programa.

[indigo girl]: É, é, muito bom.

Silêncio.

[galera]: Vai na festa lá hoje?

[träsel]: Ah, é, tem uma festa nossa hoje.

[LAERTE]: Ah, é?

[galera]: Num lugar chamado Orbital.

[indigo girl]: Bailão, né?

[galera]: Bailão!

[todos]: BAILÃO!

[cardoso]: Primeiro Bailão em São Paulo.

[indigo girl]: Aonde?

[galera]: Num lugar chamado Orbital, a gente não sabe...

[träsel]: É na Augusta 2 mil e pouco.

[caon]: Taqui o flyer.

[LAERTE]: Onde diz "Bailão"?

[caon]: Nos sacanearam. Nos mandaram por mail um flyer com o logo do COL, aí a gente encontrou uma pilha de flyers na Galeria do Rock sem o logo.

[indigo girl]: Eu fico imaginando como são essas festas...

[träsel]: Ah, aqui não vai ser a mesma coisa...

[galera]: As chances do Cardoso ficar nu são de 70%. (risos) Se ele beber, mais. Vocês não viram as fotos na página?

[cardoso]: Ah, mas aquilo era um churrasco do Galera. Só porque na foto eu tou pelado na piscina com a sunga na cabeça...

[LAERTE]: Ah, bom! (se arriando) (risos)

[galera]: Isso é o teor.

[träsel]: O Jorge que falou que ninguém do COL nunca vai poder se candidatar a nada na vida pública.

[LAERTE]: É... O cara deixa um rabo, né? Qualquer um: "olha aqui, ó!" (risos)

[galera]: É... "O que esse cara fazia!"

[träsel]: Pô, o meu sonho de ser prefeito de Porto Alegre...

[cardoso]: A única chance é transformar isso em plataforma de campanha.

[träsel]: Ah, é capaz das pessoas votarem por isso mesmo.

[cardoso]: Pois é.

[träsel]: "Sim, eu usava uma sunga na cabeça, qual é o problema? Tu não usava? Todo mundo usa sunga na cabeça!"

[LAERTE]: Pois é, o Maluf aqui diz que tá acusando a Marta de...

[träsel]: Maconheira!

[LAERTE]: ...falar de sexo anal e oral.

[galera]: Pois é, nossa edição é uma homenagem a ele: "estupra mas não mata". (mostrando um COP)

[cardoso]: Como é que tá a história? A Marta tá dando de relho no Maluf, né?

[LAERTE]: Tá, tá.

[cardoso]: Ainda bem, né?

[träsel]: Também porque pô: se o Maluf ganha...

[indigo girl]: Não tem mais perigo.

[LAERTE]: Acho que não, né? Na última pesquisa...

[cardoso]: Porque ele tá com 30 e pouco...

[träsel]: Mas não sei, São Paulo é uma coisa esquisita. Na época da eleição do Collor, aqui em uma semana vira...

[LAERTE]: Eu sei, mas aqui ele precisa soltar alguma bomba. Isso de ficar falando que ela fala de sexo anal e oral acho que ele não vai ganhar voto.

Ruídos incompreensíveis. Depois, um grito claro do Galera, em alto e bom som.

[galera]: Feito! Todo mundo nu!

[träsel]: Esses dias eu vi que ele tinha dito que ela era uma maconheira e uma permissiva.

[LAERTE]: Oba!

(Risos)

[indigo girl]: O engraçado é que esse é o tipo de argumento que não serve pra nada, a não ser fortalecer a opinião de quem já ia votar nele de qualquer jeito.

[cardoso]: Exatamente, fortalece a opinião de quem já é eleitor dele.

[träsel]: Mas é que nem o Collares!

[caon]: É a mesma coisa que rola em Porto Alegre, o Collares e o Tarso.

[LAERTE]: Mas o Tarso segura, não?

[cardoso]: Segura, tá 60 a 40.

[träsel]: A única proposta do Collares é tirar o PT da prefeitura.

[cardoso]: "Se você quer dizer não ao PT, junte-se a mim".

[LAERTE]: É o que o Maluf tá dizendo também. Ele fala que é o único cara que derrotou o PT três vezes.

[indigo girl]: E ele tá totalmente errado, porque o PT tá cada vez mais aceitável.

[cardoso]: Mas é claro!

[LAERTE]: Esses dias no rádio ele disse: "Porque o PT tá sendo chamado de cor-de-rosa e light e não sei o quê mas não se iluda com isso, é o mesmi PT que faz invasões com o MST, blá blá blá, vote Maluf e tal."

[träsel]: Na real é aquele negócio: o único grupo que ainda acredita em revolução comunista é a direita, porque nem a esquerda acredita mais, nem o PSTU mais.

[cardoso]: Olha que o PSTU...

[galera]: O PSTU quer fazer uma comuna popular em Porto Alegre, onde os membros vão ter mais poder que o prefeito.

[träsel]: Todo poder aos soviéticos!

[caon]: Ai, ai... vai dar um COL só com essa fita, né?

(Risos)

[träsel]: "Bate papo com Laerte e Indigo"

[indigo girl]: É um perigo.

[träsel]: Falando mal do Tom Cavalcante...

[cardoso]: (pro Galera) Comprou CD?

[galera]: Comprei na Galeria do Rock lá hoje.

[cardoso]: Ah, tu foi?

[galera]: Cara, caminhei duas horas seguidas por São Paulo. Vim até aqui a pé, não tinha nada, caminhei até Higenópolis...

[cardoso]: Foi lá no teu apartamento aquele?

[galera]: Fui, passei na frente...

[cardoso]: Alguém tem fogo?

[galera]: Aí depois eu fui na Galeria e dei um tempo lá. (Apontando um CD) Esse aí eu tava procurando há meses.

[cardoso]: Esse eu cobicei muito.

[galera]: Exato! Tinha até um novo lá, 35.

[cardoso]: Esse eu vou gravar uma fitinha. É o "Loveless"!

[galera]: É o "Loveless". Tava procurando há mais de um ano.

[cardoso]: E esse aqui é o quê?

[galera]: Esse é o "Spiderland", do Slint. Tava procurando há uns cinco meses.

[cardoso]: Não conheço.

[galera]: Conheci a banda há pouquinho tempo. É um dos discos mais influentes pro rock americano dos anos 90, só que a banda sumiu, acabou cedo. E agora tem um cara deles que tá no Tortoise, tem um que faz alguns projetos...

[cardoso]: Já teve algum dos shows daqui?

[galera]: Eu não vi nenhum.

[indigo girl]: Ainda não.

[cardoso]: Eu quero ver os shows...

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1999-2016